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Global Columns

A avalanche de dinheiro do pacote americano

Angie G50

El Estadão / Moisés Naím e tradução de Augusto Calil

Você tem ideia de quanto é US$ 1 trilhão? Um trilhão é o número 1 seguido de 12 zeros. O governo dos Estados Unidos acaba de decidir que vai gastar US$ 1,9 trilhão (ou seja, 1,9 seguido de onze zeros) em resposta à crise econômica desencadeada pela covid-19. Uma avalanche de dinheiro.

Os economistas concordam que as consequências econômicas devastadoras da pandemia requerem um aumento substancial nos gastos do governo. Esse dinheiro público ajudará indivíduos, famílias, empresas e organizações sociais que, de uma hora para a outra, perderam sua renda. 

Mesmo as instituições econômicas mais conservadoras, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE) e outros bancos centrais, bem como os economistas mais respeitados, recomendam não apenas aumentar os gastos públicos, mas fazê-lo de maneira substancial.

“Grandes medidas”, pediu Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, a seus colegas ministros das maiores economias do mundo. Além disso, especialistas como Paul Krugman, ganhador do Nobel de economia, afirmam não estarem preocupados com o déficit fiscal, o endividamento, a instabilidade financeira ou a inflação que podem resultar do excesso de gastos públicos e da impressão de dinheiro.

Na crise financeira de 2009, a recomendação de especialistas e instituições foi o corte de despesas e dívidas. A austeridade era o mantra que deveria servir para amenizar a crise. Agora, o mantra é “act big”, ou seja, gaste o que você tem e o que não tem também – déficits não importam e dívidas também não.

Embora haja consenso de que a terrível situação econômica exige uma intervenção governamental maciça por meio de gastos públicos e impressão de dinheiro, também existem diferenças profundas em relação ao tamanho dessa intervenção governamental e suas consequências inflacionárias. 

Larry Summers, outro economista influente e membro do Partido Democrata, acredita que o governo de Joe Biden saiu do controle. “Este nível de gasto público, provavelmente, gerará pressões inflacionárias que não víamos há uma geração”, disse Summers, que também enfatizou que o pacote de Biden deixou “pouco espaço para os profundos investimentos públicos de que o país precisa”. 

Olivier Blanchard, um dos economistas mais citados do mundo, também acha que o tamanho do estímulo aprovado é excessivo e, provavelmente, vai “superaquecer” a economia americana, causando um surto inflacionário.

Realmente, os números são extraordinários. Somado ao montante aprovado em dezembro por Donald Trump, o estímulo econômico de Biden chega a um tamanho equivalente a 14% do PIB americano, indicador que mede o tamanho da economia dos EUA.

É normal que os governos tenham mais despesas do que receitas. Mas a diferença entre receitas e despesas – o déficit fiscal – dos EUA neste ano atinge níveis astronômicos. Nos últimos 50 anos, o déficit fiscal foi, em média, equivalente a 3% do tamanho de sua economia. No ano passado, chegou a 15%, o maior da história. Este ano a estimativa é que chegue a mais de 10% do PIB.

Aposta arriscada

Por sua vez, esse nível de gasto público desencadeou o endividamento do governo. Neste ano, o tamanho da dívida pública dos EUA supera o tamanho de toda a economia do país. Felizmente, as taxas de juros aplicáveis a essa dívida são muito baixas. Ainda assim, o governo deve pagar a seus credores US$ 1 milhão a cada 1,4 segundo, de acordo com o colunista George Will.

Tudo isso possibilita ao banco central dos Estados Unidos, o Fed, imprimir dinheiro. E assim foi. A oferta de moeda tem crescido 30% ao ano, uma taxa três vezes maior que a maior taxa alcançada nos 60 anos mais recentes. Em janeiro, a oferta de moeda atingiu seu nível mais alto.

O que pensar de tudo isso? Em primeiro lugar, por enquanto, essas realidades são inevitáveis. O enorme pacote financeiro de Biden já foi implementado e ajudará milhões de americanos que precisam desesperadamente dessa assistência. A relevância de uma intervenção governamental maciça para enfrentar a emergência econômica é inquestionável.

Segundo: as medidas contidas no pacote de Biden foram certamente moldadas por cálculos e acordos políticos que permitiram sua adoção. O resultado foi um estímulo maior do que o necessário, que inevitavelmente terá falhas de implementação.

Terceiro: o gigantesco aumento nos gastos públicos, vacinação em massa, o retorno a uma certa normalidade pré-pandemia e outros fatores se combinarão para fazer a economia dos EUA crescer significativamente neste ano e no próximo.

Quarto: é uma grande aposta. A aposta é que um aumento dos gastos públicos dessa magnitude não resultará em surto inflacionário. Tomara que assim seja. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL 

*É ESCRITOR VENEZUELANO E MEMBRO DO CARNEGIE ENDOWMENT